Esse é o nosso segundo artigo sobre o Modelo de Negócios Pessoal.
Para quem não leu o primeiro, nele falamos sobre o que é e para que serve o BMY (Business Model You). Caso deseje conhecer a ferramenta antes de prosseguir com a leitura, pode seguir esse link.
Se já conhece a ferramenta, baste seguir daqui para a frente.
Projetar o Futuro
No artigo anterior, mencionamos três possíveis aplicações para o BMY, quais sejam:
- Uma ferramenta para o autoconhecimento;
- Uma ferramenta para a organização pessoal;
- Uma ferramenta para o planeamento pessoal.
Nesse artigo, focaremos no campo do planeamento pessoal, mas, para isso, precisaremos inicialmente de trabalhar em nosso autoconhecimento, para que possamos orientar o melhor possível as decisões que tomaremos nos exercícios de projeção que faremos daqui em diante.
Valores x Princípios
Em minha visão e experiência enquanto empreendedor e consultor, quanto maior a clareza acerca daquilo de que gostamos e do que queremos para nós, melhores decisões tomamos sobre os caminhos que percorreremos em nossas vidas.
Nessa perspectiva, ter clareza sobre quais são os valores que balizam as nossas decisões e quais os princípios que orientam as nossas ações é fundamental para a nossa realização e felicidade.
Valores e princípios, muitas vezes são utilizados de forma intercambiável, mas, para mim, são diferentes em sua essência:
- Valores – São limites que impomos, barreiras que não queremos cruzar para atingir os nossos objetivos e metas.
- Princípios – São guias que orientam a nossa forma de agir num determinado contexto, portanto, são mais específicos e mais diretos.
Seguem alguns exemplos de valores e princípios que tento seguir para orientar minhas decisões e ações no campo profissional:
Valores Pessoais
Aqueles que tento preservar em minhas decisões profissionais:
- Liberdade – Procuro envolver-me em projetos que não me limitem geograficamente, nem me forcem a estar fisicamente em algum sítio por períodos prolongados (meses seguidos).
- Autonomia – Procuro por projetos que me permitam exercer a criatividade e nos quais eu esteja o máximo possível no controle sobre a alocação do meu tempo e forma de dedicação.
Aqueles que busco ofertar em minhas relações profissionais:
- Honestidade – Ser transparente, não mentir, não enganar, não trapacear e, acima de tudo ser leal a quem merece o devido respeito.
- Profissionalismo – Dar sempre o meu melhor, trabalhar com excelência, independente do tamanho do projeto e do bolso do cliente.
Princípios Estritamente Profissionais no âmbito do meu trabalho como estrategista de marketing
- Eficácia – Evitar o desperdício de tempo e de recursos, remover os impedimentos e procurar por soluções que são boas o suficiente por agora, e seguras o suficiente para se testar.
- Empirismo – Trabalhar com evidências e não apenas com a intuição. Criar experimentos e avaliar os resultados concretos.
- Melhoria Contínua – Testar pequenos incrementos constantemente, para melhorar os resultados e adaptar os projetos às mudanças do ambiente.
- Transparência – Manter ambientes compartilhados com os clientes para que eles possam acompanhar o desenvolvimento do trabalho e os resultados das ações.
Esses valores foram fruto do autoconhecimento, e os princípios, da minha experiência no campo da Sociocracia 3.0[1] – uma forma de autogestão moderna.
Há algumas ferramentas utilizadas pelo pessoal dos Recursos Humanos que podem nos ajudar a definir nossos valores. Seguem alguns exemplos de ferramentas que você pode pesquisar na Internet (são comuns e fáceis de encontrar):
- Exercício da Roda da Vida
- Exercício da Linha da Vida
- Radar da Personalidade
- Metodologia DISC
- Entre outros.
Gostamos daquilo em que somos bons
Segundo a pesquisadora, professora e autora, Barbara Oakley – De Aprendendo a Aprender[2], tendemos a gostar daquilo que fazemos bem, no que somos bons.
Mas, penso que o mais interessante é que, em suas pesquisas, concluiu que o oposto também pode ser verdadeiro e que, após nos esforçarmos para nos tornarmos bons em algo, passaremos a gostar daquilo quando lá chegarmos.
Essa é uma excelente notícia para aqueles buscam adquirir novos conhecimentos e novas competências para se reinventar e para todos os que estão descontentes com o sítio em que estão atualmente e precisam de um empurrão para sair desse lugar.
Nunca é tarde para se transformar e trilhar um novo caminho.
Com isso em mente, podemos seguir para o nosso objetivo que é o de projetar com o auxílio do BMY o nosso futuro almejado.
Pensamento Causal x Pensamento Efectual
Podemos iniciar o nosso exercício de projeção de duas maneiras distintas:
Podemos iniciar definindo aquilo que queremos alcançar, ou fazer, no modelo mental (lógica) mais usual – de buscar por oportunidades de negócio e projetar os resultados esperados – o chamado pensamento “causal”, ou inverter as coisas com o pensamento “efectual”.
“Efectual” nem sequer aparece em nosso dicionário, mas é baseado na investigação da Professora Sara Sarasvathy sobre o que ela chamou de Effectuation[3], que, de forma muito resumida é um modelo de pensamento lógico (sistematizado a partir de pesquisas empíricas e método científico) de como os empreendedores de sucesso decidem e orientam as suas ações sobre um novo empreendimento.
Não cabe aqui tratarmos dessa metodologia em sua totalidade, mas apenas perceber que o BMY é mais útil para esse tipo de pensamento do que para o pensamento “causal” como veremos a seguir.
Para aqueles que querem saber mais, deixo links nas notas de pé de página.
Effectuation e o BMY
Nas investigações da Professora Sarasvathy fica claro que os empreendedores bem-sucedidos iniciam novos projetos com o que ele denomina do Princípio do “Pássaro na Mão”, que se resume em quem são, o que sabem e quem conhecem, para daí derivarem o que farão de seguida.
E, se fizemos a nossa lição de casa e preenchemos o nosso BMY com a nossa situação atual, teremos essas respostas.
Agora, para projetar nosso futuro, precisamos tentar encaixar essas três peças:
- O que sabemos fazer?
- O que gostamos de fazer?
- O que os outros precisam?

Para esse exercício, podemos pensar em diferentes configurações e caminhos, alterando peças do nosso puzzle de 9 blocos do BMY, mantendo o Bloco Quem sou eu e o que tenho como base, alterando os demais.

Como irão eventualmente perceber, é provável que nesse processo, fique evidente a necessidade de desenvolvermos novas competências, adquirir novos conhecimentos, ou mesmo encontrar parceiros que possam cobrir eventuais lacunas em nosso projeto.
Mas, isso não é um problema, é de fato a realidade da vida do empreendedor e não se contrapõe ao Princípio do Pássaro na Mão, apenas ilustra que mudanças envolvem mais que a vontade de mudar e necessitará de um tanto de esforço de nossa parte.
Avaliando as projeções com olhar crítico
Após criamos os possíveis cenários alternando os blocos do nosso BMY, precisamos avaliar o nosso Modelo com olhos críticos e perceber se ele se equilibra em um novo tripé:
- O projeto é atrativo? Os nossos segmentos de clientes têm essa dor, percebem-na e buscam ajuda para resolvê-la?
- O projeto é factível? Eu tenho os conhecimentos, as competências, o capital e os meios necessários para executá-lo?
- O projeto é viável? O projeto é sustentável? Pode retornar o dinheiro e o tempo investidos?

Como tornar essa projeção uma realidade?
Até esse momento, estamos a pensar e a projetar um cenário ideal, uma possibilidade que pode tornar-se realidade num futuro mais ou menos distante, a depender da sua complexidade e da nossa disponibilidade para executar os passos necessários para lá chegar.
Resta-nos ainda transformar esse modelo estático (essa fotografia), em um projeto dinâmico. Ou seja, desmontar essa ideia em pequenos passos que possam ser dados com algum ritmo e consistência ao longo de um período.
Para isso, utilizaremos ao menos 3 ferramentas em conjunto:
- Definiremos nossas Metas de Mobilidade (com SMART)
- Definiremos nossas Metas de Aprendizado
- E traçaremos o nosso Plano de Ação – 5W2H
Mas esse é o assunto para o nosso terceiro e último artigo a ser lançado na próxima semana.
Espero que esteja sendo útil e que nos encontremos por aqui em breve.